Resumo num ecrã
Para quem é: para quem usa cartão no dia a dia (e sobretudo em viagens) e fica stressado quando vê “pendente”, “autorizado” ou “cativo” no extrato.
Que decisão apoia: quanto dinheiro/limite “podes usar de verdade” quando existem bloqueios no cartão — e como evitar ficar sem margem por causa de cauções e pré‑autorizações.
Como usar este guia (3 passos):
- Identifica se estás a ver um pagamento pendente ou uma pré‑autorização/caução.
- Aplica o método Saldo Disponível + Margem de Cativos (um buffer simples).
- Usa o fluxograma e a folha imprimível para acompanhar cada bloqueio até desaparecer.
O que são cobranças pendentes (pending charges) e “cativos” no cartão?
Uma cobrança pendente é uma operação que já foi autorizada, mas ainda não foi totalmente processada. O efeito prático é chato (mas importante): o valor fica temporariamente bloqueado — ou seja, conta como “já gasto” para efeitos de disponibilidade, mesmo que ainda não apareça como compra definitiva.
Em Portugal, muitas apps e extratos misturam palavras como:
- Pendente: autorizado, ainda por fechar.
- Autorizado: o comerciante “reservou” o valor, mas ainda não o capturou.
- Saldo cativo: parte do dinheiro/limite que fica indisponível até a operação ser liquidada (ou expirar).
A ideia central para não entrares em pânico é esta:
Pendente ≠ cobrado duas vezes.
Na maioria dos casos é só a diferença entre “autorizar” e “finalizar”.
O que muda no teu saldo (e por que parece magia negra)
Há dois números que interessam sempre que aparecem pendentes:
- Saldo contabilístico: o “total” registado na conta.
- Saldo disponível: o que consegues usar agora (o que está livre, sem cativos).
Quando há um “cativo”, o disponível baixa — e isso é o que te bloqueia compras, débitos e levantamentos, mesmo que o contabilístico pareça confortável.
Por que é que existe este bloqueio? (E por que não é um erro, na maioria das vezes)
Os bloqueios existem para resolver um problema simples: há serviços em que o valor final pode variar (ou só é conhecido no fim).
Exemplos clássicos:
- Hotel/alojamento: caução por incidentais, danos, extras.
- Aluguer de carro: caução, combustível, franquias.
- Reservas online: o comerciante valida que há fundos/limite antes de confirmar.
- Validação de cartão: alguns serviços fazem uma operação pequena e temporária para confirmar que o cartão é válido.
Tudo isto costuma aparecer como “pendente” ou “pré‑autorização”. A chave é tratares estes movimentos como um bloqueio de capacidade, não como “um pagamento normal”.
Quanto tempo pode durar um pagamento pendente ou uma pré‑autorização?
Não há um único prazo universal — varia com o comerciante, o tipo de operação e o banco — mas dá para trabalhar com três “janelas mentais” que ajudam no orçamento:
1) “Normal”: alguns dias úteis
Pagamentos pendentes comuns tendem a ser resolvidos em poucos dias úteis.
2) “Ainda normal, mas irritante”: até cerca de 10 dias
Há casos em que o comerciante tem uma janela mais longa para confirmar ou cancelar a operação pendente. Isto é especialmente relevante quando estás a contar com aquele dinheiro/limite para outras despesas.
3) “Caução/serviços de maior risco”: pode estender-se mais
Pré‑autorizações associadas a reservas (incluindo alojamento) podem demorar mais tempo a libertar. E existem sistemas de pré‑autorização que permitem bloqueios por períodos mais longos (até cerca de um mês, dependendo das regras e do tipo de negócio).
Como usar isto sem stress: não tentes adivinhar o dia exato. Em vez disso, define um buffer (já explico) e gere o teu orçamento pelo saldo disponível.
Fluxograma: o que fazer quando aparece um “pendente” (sem entrar em espiral)
Vês um movimento "Pendente" / "Autorizado" / "Cativo"
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|— 1) Reconheces o comerciante e o contexto?
| |— NÃO → Congela o cartão (se necessário) e fala com o banco.
| |— SIM →
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|— 2) É um cenário típico de caução? (hotel, aluguer, reserva)
| |— SIM → Assume "bloqueio real" no orçamento e passa ao passo 4.
| |— NÃO →
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|— 3) Recebeste o bem/serviço e o valor parece final?
| |— SIM → Provavelmente vai "fechar" em poucos dias úteis.
| |— NÃO → Pode ser validação/erro; dá 1–2 dias úteis.
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|— 4) A tua app mostra "data de reversão/expiração"?
| |— SIM → Planeia até essa data (não contes com o dinheiro antes).
| |— NÃO → Usa a regra dos 10 dias como checkpoint.
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|— 5) Passou o checkpoint e continua pendente?
|— Contacta o comerciante e pede libertação/cancelamento do bloqueio.
|— Se não resolver, escala para o banco com detalhes da operação.
Imprime isto ou mete num bloco de notas. O objetivo é tirares emoção do processo.
Como orçamentar quando há bloqueios no cartão (método simples)
Quando há pendentes, o erro mais comum é fazer contas com o número errado.
Regra base
Orçamenta pelo saldo disponível (ou limite disponível), não pelo contabilístico.
Depois, adiciona uma camada:
O método “Saldo Disponível + Margem de Cativos”
-
Saldo Disponível = o que podes gastar já
É o teu “orçamento operacional”. -
Margem de Cativos = o que pode ficar preso temporariamente
É a tua rede de segurança para:
- cauções de hotel e aluguer de carro,
- reservas que só fecham dias depois,
- validações e autorizações que aparecem e desaparecem.
Como definir a tua Margem de Cativos (sem moeda, com lógica)
Escolhe uma regra que consigas manter. Aqui vai uma que funciona bem porque é fácil:
- Versão leve (rotina normal): mantém 10% do teu “orçamento operacional” como margem.
- Versão viagem (hotéis/alugueres/reservas): sobe para 30%–50% enquanto durar a fase de cauções.
Se isto parece muito, usa uma alternativa ainda mais concreta:
- Margem mínima: espaço para 2–3 dias de despesas típicas (as que não podes adiar).
- Margem reforçada: espaço para uma caução grande + 2–3 dias de despesas típicas.
Não é para ser perfeito; é para evitares ficar encurralado por um bloqueio que não é bem uma compra, mas comporta-se como se fosse.
Se estás a decidir entre cartão de débito e cartão de crédito para cauções
Esta escolha é metade do jogo, porque muda onde sentes a dor.
Cartão de débito (prós/cons)
Prós
- Mais fácil de controlar gastos (é o dinheiro “real” da conta).
- Menos tentação de esticar.
Contras
- Uma pré‑autorização pode prender saldo disponível — e isso afeta a tua vida imediatamente.
- Se a tua conta já está “justa”, uma caução pode bloquear pagamentos essenciais.
Cartão de crédito (prós/cons)
Prós
- A pré‑autorização costuma consumir limite, não o saldo da conta (o que protege liquidez diária).
- Útil em viagens e reservas, porque separa “cauções” do dinheiro do mês.
Contras
- Podes ficar sem limite quando mais precisas (principalmente se tens limite baixo).
- Se acumulares várias cauções, o limite derrete sem dares por isso.
Regra prática: se vais entrar numa fase de reservas/cauções, usa o instrumento que te dá mais folga no “dia a dia” — e reforça a Margem de Cativos.
Casos típicos (e como planear sem adivinhar valores)
1) Hotéis e alojamento: “caução” e incidentais
O padrão mais comum é: no check‑in há uma pré‑autorização (para garantir fundos), e no fim há a cobrança final.
Como orçamentar
- Assume que a caução vai bloquear parte do teu disponível/limite.
- Mantém a margem reforçada durante toda a estadia e até alguns dias após o check‑out.
- Se vires dois movimentos (um pendente e outro final), não concluas logo “duplicado”: pode ser a troca entre autorização e compra.
Quando agir
- Se o bloqueio não desaparece após o checkpoint (data indicada na app, ou janela dos 10 dias), começa pelo comerciante: é quem pode desbloquear mais rápido.
2) Aluguer de carro: caução + valor final
Aqui o bloqueio existe para cobrir riscos e diferenças no valor final.
Como orçamentar
- Considera o aluguer como “dois eventos”:
(a) caução (bloqueio) + (b) custo final (cobrança). - Planeia para que consigas suportar ambos ao mesmo tempo durante alguns dias — porque o bloqueio pode manter-se mesmo quando a cobrança final já entrou.
Checklist antes de assinar
- Pergunta como funciona a caução (pré‑autorização ou cobrança).
- Confirma quando libertam o bloqueio e o que precisas de apresentar se houver atraso.
3) Compras online e reservas: autorização agora, captura depois
Em e‑commerce, é comum haver uma autorização e, mais tarde, a captura (a “compra final”).
Como orçamentar
- Se estás a fazer várias compras grandes, espalha-as por dias diferentes ou usa um cartão com folga, porque podes ficar com várias autorizações ativas ao mesmo tempo.
- Evita usar o “saldo contabilístico” como referência durante este período.
4) Validações de cartão: pequenos “pendentes” que voltam
Quando adicionas um cartão a um serviço de pagamento, pode surgir uma operação temporária para validar o cartão. Normalmente desaparece depois da validação.
Como orçamentar
- Ignora isto no orçamento do mês, mas conta como “mini bloqueio” no saldo disponível durante alguns dias (se o teu saldo é apertado, até isto pode incomodar).
- Procura na app a informação de estado/reversão.
Checklist antes de pagar (para reduzir surpresas)
- Isto é uma compra com preço fixo… ou pode virar caução/pré‑autorização?
- Vou precisar deste mesmo dinheiro/limite nas próximas 48–72 horas?
- Estou a usar o cartão certo para reservas (o que dá mais folga no dia a dia)?
- Tenho uma Margem de Cativos ativa (10% normal / 30–50% em viagem)?
- Consigo aguentar “caução + compra final” ao mesmo tempo, por alguns dias?
- Se algo correr mal, tenho o comprovativo (reserva, email, recibo, contrato)?
- Sei onde ver a data de reversão/expiração na app?
Folha imprimível: rastreador de cativos (uma página)
Imprime e preenche. O objetivo é transformar “ansiedade difusa” em “lista finita”.
Regra de ouro da folha: cada linha = um bloqueio que só sai da lista quando desaparece ou vira compra final.
| Data | Comerciante | Tipo (pendente / pré‑autorização / validação) | Impacto (saldo/limite) | Checkpoint (data/“10 dias”) | Próxima ação |
|---|---|---|---|---|---|
Como usar (2 minutos por dia)
- Abre a app e marca o que continua pendente.
- Se passou o checkpoint, muda “Próxima ação” para: contactar comerciante.
- Quando o movimento fechar (ou desaparecer), risca a linha.
O que fazer quando o cativo não desaparece (plano de ação sem drama)
Se já passou o checkpoint e continua lá, segue esta sequência (da mais rápida para a mais lenta):
-
Confirma se há “data de reversão/expiração” na app
Se existir, esse é o teu marco principal. -
Contacta o comerciante (primeiro)
Pede explicitamente: “podem cancelar/libertar a pré‑autorização?”
Muitos bancos não conseguem “forçar” a libertação sem ação do comerciante. -
Se o comerciante diz que cancelou, dá algum tempo técnico
Às vezes o cancelamento não se reflete imediatamente no saldo disponível. -
Escala para o banco com detalhes objetivos
Envia: data, comerciante, referência, captura de ecrã do estado e a confirmação do comerciante (se tiveres).
O teu objetivo é simples: que registem o caso e te expliquem o próximo passo.
Sinal vermelho (agir já): comerciante desconhecido, padrão repetido, ou pendentes que surgem sem contexto. Aí o foco muda de “orçamento” para “segurança”.
Recap rápido
- Orçamenta pelo saldo/limite disponível, não pelo contabilístico.
- Trata pendentes e pré‑autorizações como “já gasto” até fecharem.
- Mantém Margem de Cativos: 10% em rotina; 30–50% em viagem/cauções.
- Lembra-te do checkpoint: data de reversão na app ou janela de ~10 dias.
- Se passar do checkpoint: comerciante primeiro, banco depois.
- Usa a folha imprimível para acompanhar sem stress.
Fontes
- Caixa Geral de Depósitos — “Aprenda a descodificar o talão do multibanco”
- moey — “Porque é que o meu pagamento está pendente?”
- Revolut Portugal — “O meu pagamento com cartão está pendente”
- Revolut Portugal — “Verificação de cartão e pré-autorização”
- RoomRaccoon Help Centre — “Pré-Autorização de Cartão de Crédito – Perguntas Frequentes”
- myPOS Support — “Autorização prévia para cartões de crédito”
- easypay — “Captura de Pagamentos Pontuais – MBWay e cartões Visa e Mastercard”
- Doutor Finanças — “Saldo cativo: O que é e quando ocorre”

